quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Momento Certo...


Marta era feliz… Tinha tudo o que sempre desejara e sonhara…
Mas há 8 meses que algo tinha mudado em completo a sua vida… Tinham-lhe diagnosticado cancro… E referiram que tinha poucos meses de vida…
Marta negou sempre… Não podia ser… Como seria possível ela, uma mulher de 32 anos, estar a morrer?! Ter só alguns meses de vida?!
Entrou em depressão… Não conseguia aceitar isto… Não queria aceitar isto… Limitou-se a desistir… Simplesmente porque não tinha coragem de lutar contra algo que sabia que, desde início, iria vencer as batalhas… e posteriormente a guerra…
Marta recusava-se a comer, não saía de casa, não queria ver ninguém, não falava com ninguém… Tinha aceite o seu destino… Pelo menos, assim pensava ela…
O que ela não sabia era que estava a destruir tudo e todos a sua volta… Ela achava que estava a proteger os outros: os seus amigos, pais, familiares… Porque assim eles desiludiam-se com ela, esqueciam-na e não sofreriam com a dor dela e, muito menos, com a sua morte… Mas Marta estava redondamente enganada…
A cada dia que passava, todos eles sofriam mais e mais por não a conseguirem ajudar, por se sentirem impotentes, por não poderem estar perto dela, apoiando-a, mas principalmente… por não poderem aproveitar e estar com ela nos seus últimos dias de vida…
Até que, um dia, Tiago, o melhor amigo de Marta, cansou-se de ter medo de piorar as coisas, de ter medo de falar com Marta, devido ao seu estado, e disse-lhe tudo o que lhe ia na alma…
Marta estava estupefacta… Marta estava sem reacção… Ouvia e ouvia o que Tiago lhe tinha para dizer e ela não conseguir pronunciar uma única palavra… Não tinha ideia do que realmente estava a fazer…
À medida que Tiago falava, as lágrimas corriam-lhe pela face… Tudo o que estava ali guardado, saiu para fora… Sem paninhos quentes, sem pensar no que dizer e na melhor forma de o proferir, Tiago falava e falava… E as lágrimas continuavam a correr…
Até que ficou sem fôlego… E sem palavras… Tinha dito tudo…
Marta mantinha-se calada…
Tiago aproximou-se dela e sentou-se ao seu lado… Mas sempre em silêncio…
E foi então que Marta expressou o que lhe ia na alma…
Conseguia-se ouvir o soluçar de Marta no corredor… Médicos, Enfermeiros, Auxiliares ao ouvirem aproximavam-se… Mas quando davam conta do que se tratava, afastavam-se pensando “Finalmente…”
Marta chorou durante muito tempo… Chorou até se sentir aliviada… E no fim disse: “Obrigada…”
Tiago levantou-se, deu-lhe um beijo na testa e saiu… Sem dizer nada… Afinal, não era preciso…
Marta recompôs-se… E mudou completamente de atitude…
Já sorria para as pessoas, já falava com elas… O apetite tinha voltado… Enfim, tinha aceitado finalmente a doença…
Passado uma semana teve alta clínica… E todos a receberam em casa num clima de alegria… Dentro do possível…

Passou um mês…

Marta piorava a cada dia que passava… Mas o espírito mantinha-se…
Marta andava a fazer algo as escondidas de todos… Ninguém sabia do que se tratava… Todos queriam saber, mas respeitavam a sua privacidade, mas acima de tudo, tinham prometido a Marta que esperariam pela momento certo… Apesar de ninguém saber quando seria…
Mais um mês passou… E aconteceu o que todos já todos sabiam que iria acontecer…

Marta morreu…

Apesar de saberem que era inevitável… Apesar de saberem que mais cedo ou mais tarde a vida de Marta chegaria ao fim… Apesar de tudo isso… A dor era imensa e insuportável… E ninguém queria aceitar…
Despediram-se todos de Marta no funeral… E no fim, cada um deles retornou a sua casa… Mal sabiam o que lhes esperava…

Tiago estava completamente de rastos… Para ele, a vida tinha perdido sentido…
Chegou a casa… Sentou-se no sofá… e ali adormeceu…

Tiago acordou sobressaltado… Alguém estava a tocar a campainha…
Foi abrir a porta, a espera que fosse alguém que não conseguisse estar sozinho naquele momento… Enganara-se… Era simplesmente o carteiro… ‘Mas o carteiro só costuma vir às dezoito…’ Olhou para o relógio… Dezoito horas… Tinha dormido duas horas e não se tinha apercebido…
Fechou a porta… Era um “pacote”… De quem seria?!
De repente, o pacote caiu no chão… Tiago estava perplexo… Era de Marta…
Assim que se recompôs, agarrou o pacote… e pensou… “… momento certo…” E esboçou um sorriso… ‘São mesmo coisas à Marta…’
Sentou-se no sofá e abriu o pacote…
Se ele estava atordoado ainda mais ficou quando ao abrir o pacote se depara com um livro… Livro este da autoria de Marta… com a indicação de “um de cinquenta exemplares”… e com o seguinte título:

“Os que um dia, me ajudaram a sorrir...”


P.S.: Pra bom entendedor, meia palavra basta...

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